Velhinhos e caixas multibanco: O verdadeiro teste à paciência humana
Há muitas provas de resistência na vida: maratonas, exames nacionais, explicares à tua mãe que o “OK Google” não funciona num Nokia tijolo… mas nada, NADA, se compara à experiência transcendental de estar numa fila atrás de um velhinho numa caixa multibanco. É um espetáculo de lentidão, drama e mistério que faz o Senhor dos Anéis parecer um episódio do Tom & Jerry.
Capítulo 1: A abordagem cuidadosa – ou “O aquecimento”
Tudo começa com o ritual do cartão. Eles aproximam-se da máquina com a calma de quem está a entrar num confessionário, mas depois… ah, depois é que a verdadeira odisseia começa. O cartão nunca está onde deveria estar.
A carteira emerge, mais parecida com uma arca do tesouro em formato de cabedal, e o processo de triagem começa:
- Primeiro, sai um talão de 1997, provavelmente de uma mercearia que já fechou há 20 anos.
- Depois, aparece um cartão de cliente do Pingo Doce.
- Em seguida, um cartão da farmácia, porque, claro, nada diz “sou previdente” como descontos em aspirinas.
- E, finalmente, o cartão certo.
Mas espera, não acabou. Há sempre um segundo de hesitação. “Será que este é mesmo o certo?” A fila atrás já está a criar laços emocionais. Há trocas de olhares, partilhas de histórias de vida. Um homem ao fundo pondera começar uma família antes de a fila avançar.
Capítulo 2: O PIN – a dança com o destino
Encontrar o cartão é só o início. O verdadeiro desafio está no PIN. O velhinho aproxima o dedo ao teclado com a precisão de um cirurgião cardíaco. E então:
- Digita o primeiro número.
- Pausa dramática. Olha para o céu, talvez à espera de inspiração divina.
- Digita o segundo. Suspira. Parece que acertou.
- Erra no terceiro. O ecrã apita.
- Confusão total.
“Ah, como é que era mesmo? Era o 5 ou o 6? Ah, bolas, agora bloqueou! Que chatice!” Nesse momento, a fila já parece um casting para um remake de Os Miseráveis.
E há sempre o ritual final: tirar os óculos, limpar as lentes, voltar a pô-los e… tentar de novo. Spoiler: erra outra vez.
Capítulo 3: O menu do multibanco – um enigma digno de um prémio Nobel
Finalmente, o PIN é aceite. A máquina abre o menu, e o velhinho olha para o ecrã com a mesma expressão que eu teria ao olhar para um manual de física quântica em mandarim. “O que é isto? Consultar saldo? Levantar dinheiro? Pagar serviços? Onde está a opção para mandar mensagens para o meu neto?”
Escolher um montante? É uma odisseia por si só. Eles hesitam. Olham para os 20 euros como se fossem investir em criptomoedas. “Será que chega? Será que não? Ah, mas e se precisar de mais tarde? Mas também não quero andar com tanto dinheiro…”
Ao mesmo tempo, a fila atrás deles já atingiu níveis de desespero existencial. Uma mulher decide fazer uma chamada de trabalho. Um rapaz ao fundo resolve aprender francês no Duolingo. A vida continua, mas não ali. Ali, estamos suspensos no tempo, reféns da indecisão alheia.
Capítulo 4: A reviravolta final – “Ah, ainda falta pagar a luz!”
Quando achas que terminou, quando finalmente ouves aquele som glorioso do dinheiro a sair da máquina, surge a grande reviravolta.
“Ah, já agora, queria pagar a conta da luz!”
É aqui que os verdadeiros heróis da paciência desistem. Lá volta o velhinho ao menu inicial, com a mesma determinação de um arqueólogo a decifrar hieróglifos. A fila? Já nem há fila. Há um grupo de apoio emocional.
O processo é lento, mas eles chegam lá. Paga-se a luz, consulta-se o saldo, imprime-se o talão. E sim, eles querem SEMPRE o talão. Porque, afinal, “o papel não mente.”
Capítulo 5: A paciência da fila – ou a falta dela
Enquanto tudo isto acontece, a fila transforma-se num microcosmos da sociedade portuguesa:
- Os impacientes: Suspiros, olhos revirados e pés a bater no chão.
- Os resignados: Aqueles que já aceitaram o destino. Sabem que estão ali para sofrer.
- Os solidários: Tentam ajudar. “Olhe, carregue nesse botão!” (Spoiler: só pioram as coisas.)
- Os existenciais: Ficam a pensar na vida. “Porquê eu? Porquê agora? Porquê este velhinho?”
E, claro, o clássico “Vou mas é a outro multibanco.” Mas quando chegam ao outro lado da rua, encontram… outro velhinho.
Capítulo 6: O verdadeiro significado dos velhinhos no multibanco
No fundo, os velhinhos nas caixas multibanco são mais do que um desafio à paciência humana. Eles são metáforas vivas. Eles ensinam-nos sobre o tempo, sobre como as coisas importantes não devem ser apressadas. Quer dizer, não ensinam, mas obrigam-nos a refletir, porque não temos mais nada para fazer enquanto esperamos.
Eles são o lembrete de que um dia seremos nós ali, com um cartão errado na mão, a bloquear a fila enquanto tentamos lembrar-nos do PIN. E, sejamos honestos, quando chegar a nossa vez, vamos ser ainda piores.
Conclusão: O legado eterno do velhinho do multibanco
Se há algo que une Portugal, é o velhinho na caixa multibanco. Ele é a força invisível que mantém o país em movimento… mas muito, muito devagar.
Da próxima vez que estiveres atrás de um velhinho no multibanco, respira fundo. Olha para o céu. Lembra-te: a fila não é o destino. É a jornada. E essa jornada é o verdadeiro teste à paciência humana.